Por Marijane Mendes
Para ser negra e jornalista no
Brasil é necessário se portar como um centroavante, alguém que está em uma
posição mais avançada, aquele que chega primeiro. É necessário ser muito forte
para não se deixar abater. Os olhos por muitas vezes ficam cheios de lágrimas,
mas se o objetivo é ser jornalista, as dificuldades podem fazer balançar, mas
não podem deixar cair.
Ao ingressar na faculdade a menina
logo ouve os avisos de que não vai conseguir trabalhar na TV com o “cabelo
assim”. A futura jornalista fica triste, engole seco sem saber por que tem de
ouvir tudo aquilo. Quem perguntou? Ela ainda é aconselhada de que até poderia
trabalhar na televisão, mas desde que seja em um programa diferente, com o segmento
musical. Amuada, acaba aceitando e nem se interessa pelas aulas de
telejornalismo.
As mulheres são a maioria no
jornalismo, 64%. Apenas 5% das mulheres e dos homens são negros, 18% são pardos
e, por fim, em nosso país ficamos apenas com 23% de jornalistas não brancos. É
possível perceber o problema? Os dados são da Federação Nacional dos
Jornalistas, a Fenaj. Quase não existem mulheres negras nesse tal de
jornalismo. Por isso todas elas são centroavantes, porque praticamente não
existem no Brasil.
A garota negra que entrou na
faculdade ouve toda a vizinhança dizer que quer vê-la na Rede Globo,
apresentando o Jornal Nacional. Ela se entristece, pois como foi avisado lá na
faculdade, isso nunca iria acontecer. Por que criar tanta expectativa? Não é
preciso nenhuma investigação para saber que são muito poucas as jornalistas
negras no Brasil, basta ligar a TV. É verdade tem a Glória Maria né? Mas ela é
magra, alisou o cabelo, aquilo que chamam de traços finos. Se nem toda mulher
negra no Brasil é assim, imagina entrar no pequeno grupo das jornalistas?
As mulheres negras que se lançam
nessa profissão são centroavantes porque resistiram e disseram que não
alisariam o cabelo. E sabe o que aconteceu? Essas mulheres não estão mais entristecidas.
Quando ligamos a TV, cada dia mais podemos ver uma mulher negra no telejornal.
Tem repórteres e até mesmo mulher do tempo. Elas ainda não ocupam cargos de
liderança, mas até ai, nem as mulheres brancas chegaram.
Jornalista negra é centroavante, é rastafári, black power para o alto e
todas as ideias no ar. Quando menos esperarmos ao ligar a TV haverá uma preta
anunciando a próxima presidenta.
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