segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Representatividade x objetificação feminina

Descrição para cegos: imagem mostra 8 candidatas de um concurso de beleza. Propositalmente, a foto foi distorcida aplicando-se um efeito que imita gás neon.
Carmem Ferreira

        Raissa Santana, candidata do Paraná, ganhou o concurso Miss Brasil 2016. Ela é a segunda negra a ganhar o Miss Brasil. A primeira foi Deise Nunes, em 1986.
        Depois de 30 anos sem uma candidata negra vencedora, Raissa foi eleita a mulher mais bela do país. A edição do concurso, que aconteceu no dia 1º de outubro, também foi a edição com o maior número de candidatas negras: a própria Raissa e as que representaram os estados do Rondônia, Maranhão, Bahia, Espírito Santo e São Paulo.
        Segundo uma pesquisa de 2014 realizada pelo IBGE, 54% da sua população brasileira se autodeclarava negra ou parda. Ainda assim, o padrão de beleza brasileiro não condiz com esses dados. A beleza retratada não é negra, é branca, remetendo sempre ao padrão europeu.


        Apesar da importância de uma mulher negra representar a beleza de um país, é válido criticar os concursos de beleza. Esses concursos são um meio retrógrado de exploração dos corpos femininos. As mulheres são expostas, julgadas dentro de um padrão e, acima de tudo, tratadas como objeto, já que a finalidade do concurso é premiar o de maior valor.
       Para ganhar o título Raissa teve que se encaixar no padrão europeu de beleza – mulheres magras, altas e brancas. Ainda que a nova Miss Brasil não seja branca, Raissa é uma negra de pele clara, com traços finos, alta e magra. Isso concede um privilégio sobre negras de pele mais escura e a torna mais apreciável e tolerável pela sociedade. 
        Ainda assim, as mulheres negras (sejam elas de pele escura ou clara) são alvo de constante preconceito. Ter a representação de uma mulher, que agora é considerada a mais bonita do Brasil, é uma forma de aumentar a confiança e auto estima de diversas mulheres brasileiras ao mostrar que a beleza não é exclusividade de pessoas brancas, por mais que a mídia constantemente retrate assim.
        Apesar de tudo, é importante levar em conta que o fato de premiar uma negra nada mais é do que uma tentativa de adaptar uma competição anacrônica às demandas da sociedade no tocante a questões raciais e de gênero. Isso, porém, não esconde o fato de que os concursos de beleza, em sua essência, contribuem para ratificar preconceitos. 

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